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Vale a pena ler!!!

ABRAÇO!

FISCHER.


Por Que Eu Sou Contra Jogos Olímpicos No Brasil?
Setembro 16, 2009

Encuralado pela imprensa nacional e internacional, inclusive por membros do Movimento Olímpico, o Comitê Olímpico Brasileiro e o Co-Rio 2.106 divulgam que as razões pelas quais eu me oponho aos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, ou em qualquer outra Cidade deste País, é porque eu tenho uma agenda pessoal contra Carlos Arthur Nuzman e porque não fui reeleito em sua chapa por mais um mandato.

As alegações dessa gente não são corretas.

Não tenho absolutamente nada pessoal contra Carlos Nuzman. Na sua vida privada, ele pode fazer o que quiser. Só não pode fazer na pública aquilo que faz na privada, como diz Fausto Silva. Tenho, sim, contra o presidente do COB. Repudio de maneira veemente a forma pela qual ele administra o esporte olímpico do Brasil, suas prioridades, sua forma de distribuir verbas, contratações sem licitações públicas e uma outra porção de coisas que não vou repisar neste momento. Basta ler este Blog e minhas declarações em outros veículos de comunicação, disponíveis na internet, que lá estarão, claramente, as razões que fazem rejeitar sua gestão.

Vivo do meu trabalho. Não quero ocupar o cargo dele. Quero, sim, que alguém mais dinâmico, competente, comprometido com o desenvolvimento social, substitua-o. E quanto antes melhor. Por isso luto pela mudança da inconstitucinal cláusula inserida por ele nos Estautos da entidade que dirige, pela qual cerceia o direito de qualquer brasileiro candidatar-se à presidente e vice-presidente do COB, muito embora seja este financiado com dinheiro do povo, decorrentes da Lei Piva e dos repasses do Governo Federal.

Não vivo do esporte, no sentido de que não possuo nele qualquer interesse financeiro. Quero dizer, não tenho agências de turismo, não represento corretora de seguros, não tenho empresas de marketing esportivo, não sou proprietário de sociedade que comercializa ingressos de competições desportivas e nem de cunhagem de medalhas, apenas para citar alguns exemplos de indivídos que gravitam em torno de um poder central. E que sem ele, provavelmente, não teriam condições de sobrevivência.

Sou um Advogado militante que, assim como milhões de pessoas no mundo, gosta do Olimpismo. E quer vê-lo sendo tratado de maneira correta.

Não passei a fazer oposição ao COB apenas após a última ( e esperemos que seja a última mesmo) reeleição dos atuais mandatários. Se olharem jornais de mais de três anos atrás, já fazia críticas públicas à gestão que, aos poucos, culminando com a inauguração deste espaço cibernético, tomou vulto. Há muito já não frequentava a Asssembléia Geral do COB, uma vez por ano, alertado que fui por gente próxima ao governo federal que me dizia que “o próximo escãndalo nacional será o do esporte olímpico. Nunca assine nada.”

Dar os Jogos Olímpicos ao Brasil seria de uma profunda insensibilidade social. O Brasil é um País carente de infra estrutura, aonde as pessoas ainda morrem nas filas dos hospitais por falta de atendimento, ou mesmo de fome, com milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da miséria. Enquanto não formos medalha de ouro em saúde, educação, transporte, alimentação, saneamento básico, energia elétrica, enquanto não criarmos uma política de desenvolvimento sustentável que reduza drasticamente a poluição e o desmatamento e enquanto não houver esporte para todos, a intenção de trazer uma Olimpíada para cá é atitude demagócica do governo aliada a interesses pessoais. Soa ao povo brasileiro como uma bofetada. Soa aos Atletas do Brasil como um deboche. Enquanto nossas estrelas Olímpicas que permaneceram no Brasil vivem sob condições paupérrimas, os dirigentes gastam muito milhões de Reais para fazer uma campanha olímpica que apenas serve para tentar esconder, no exterior, as mazelas do País. E, no Brasil, tem a utilidade de dar algum folêgo suplementar a uma proposta que se mostrou fracassada. ´Há sempre o argumento, hipócrita, de “vamos juntos segurar a bandeira olímpica e trazê-la para o Brasil”. Ao mesmo tempo em que se tenta jogar para debaixo do tapete aquilo que a CPMI Olímpica certamente descobrirá.

Vejam o que ocorreu hoje no Rio de Janeiro, um tiroteio no meio da Cidade. Cinco mortos e outros tantos feridos. Isso repercute no exterior como uma bomba. Para nós, brasileiros, esses fatos tenebrosos passaram a fazer parte do cotidiano. Nem ligamos como deveríamos para esse tipo de notícia, tamanha a banalidade com esse fatos são encarados. Hoje foi no Rio, ontem em São Paulo, amanhã será em outro lugar. E é assim há anos. Nada muda. E quem diz que os Jogos Olímpicos no Brasil será a redenção de tudo isso, está doido, ou de má fé. Será coisíssima nenhuna.

Tome-se como exemplo os Jogos Pan Americanos do Rio em 2.007. Eu desafio alguém a mostrar-me que obra de infra estrutura foi feita, daquelas que foram prometidas no dossie de candidatura. Aonde estão as novas vias de acesso à Barra da Tijuca? E as novas linhas de metro? A belíssima Baia da Guanabara foi despoluída? E a Lagoa Rodrigo de Freitas? Os hospitais públicos foram remodelados? A resposta verdadeira para cada um desses ítens é um sonoro não. E das construções esportivas que sobraram, viraram todas “elefantes brancos”, sem qualquer utilidade à sociedade e repassadas ao setor privado à preço de banana. E não vamos nos esquecer que essa festança toda custou-nos 1.000% a mais do que o previsto inicialmente. É certo que tudo isso está sendo analisado pelo Tribunal de Contas da União, que já decidiu por duas condenações. Há ao redor de cem processos tramitando naquelas Cortes.O Ministério Público Federal também investiga a questão por meio de um Inquérito Civil Público. Mas queria ver se esse superfaturamento tivesse ocorrido em um País aonde, tradicionalmente, as instituições funcionam de forma mais rápida e eficaz, sem interferência de lobistas de quinta categoria, aonde estariam em uma hora dessas os organizadores desse evento.

No Brasil, não. Ele têm o escárnio de vir a público e enfiar goela abaixo uma proposta de candidatura olímpica e, ainda por cima, a mais cara de todas.

Sou contra os Jogos Olímpicos aqui porque sou comprometido com o Brasil. Eu tenho um nome a zelar, uma tradição olímpíca familiar que é, sem falsa modéstia, uma referência internacional, cujos patamares atingidos se deram, sempre, em decorrência de uma sólida estrutura de caráter, pelo equilíbrio e serenidade de suas ações. Que nunca deixou-se levar pelas vontades veladas dos políticos demagogos. Por isso se fez internacionalmente respeitado sem nunca ter caído, nem de longe, na vala comum dos vaidosos.

Para mim seria muito fácil ficar simplesmente calado. Ou aderir. Mas não faz parte do meu feitio. Não compactuo com aquilo que acho que está errado, com aquilo que não apenas ruim, mas mil vezes pior.

Jogos Olímpicos no Brasil são uma falácia. E lutar a favor do Brasil é, entre outras coisas, lutar para que essa competição esportiva não venha para cá.

About Eduardo Fischer

Eduardo Fischer é catarinense e natural de Joinville. Ex-Atleta Olímpico de natação da seleção brasileira e medalha de bronze no Mundial de Moscou, Fischer defendeu o país em dois Jogos Olímpicos (Sydney/2000 e Atenas/2004), 6 Campeonatos Mundiais e 1 Pan-Americano (Prata e Bronze). Bacharel em Direito e Advogado pela OAB/SC, Eduardo é especialista em Direito Empresarial pela PUC/PR e em Direito Tributário pela LFG/SP. Atualmente aposentado das piscinas, trabalha com Consultoria Tributária em um respeitado escritório de Advocacia (CMMR Advogados).

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