GUILHERME ESCREVEU PARA O BLOG!

O profissional responsável pela matéria que eu “critiquei” (Guilherme Roseguini), escreveu para mim e apresentou sua “defesa”… Se é que posso assim chamar, pois na minha opinião, não houve nenhum “ataque”, apenas uma opinião minha no Blog.

Eu sei que as vezes uso expressões fortes, e isso acaba por ofendendo algumas pessoas, mas como eu disse para ele, não foi nunca minha intenção ofender, desmerecer ou depreciar qualquer profissional da televisão, mas sim, instigar o questionamento das pessoas.

Pois, infelizmente, matérias de TV são tratadas, muitas vezes de forma errada, como a verdade absoluta. E isso sim me incomoda um pouco.

O e-mail que ele me enviou foi bastante esclarecedor, mas continuo, am alguns pontos, discordando. Em outros, até foi obrigado a “dobrar-me” e concordar com ele. Afinal, é disso que eu gosto, explanações complexas e com fundamento, para que eu mude minhas ídeias e pense sempre mais sobre qualquer assunto. É disso que precisamos. Discussão saudável.

Deixo aqui, publicamente, minhas desculpas se por acaso ofendi o profissinal Guilherme Roseguini. Não foi intencional e nem o conheço a ponto de dizer qualquer coisa ruim sobre seu trabalho.

O e-mail que ele me mandou, foi muito bacana. Explica muitas coisas, mas a matéria (talvez por ter limite de tempo) não diz exatamente as mesmas coisas que seus argumentos escritos.

Segue abaixo as esplanações do Guilherme sobre o assunto
(em itálico palavras de Guilherme, em negrito, minhas palavras):

Comparação natação x atletismo

De fato seria um absurdo comparar performances em duas modalidades tão distintas. Seria bizarro dizer que Usain Bolt é melhor que César Cielo porque ele completa os 100 m em 9s e o brasileiro em 46s. Acontece que não realizamos este tipo de comparação.

Muito antes de você nascer a ciência esportiva já produzia trabalhos periódicos acompanhando e equiparando a evolução dos recordes mundiais em várias modalidades, como atletismo e natação. É um procedimento padrão entre cientistas, porque pode se aprender muito com a evolução compara dos recordes em diferentes modalidades.

A TV Globo, portanto, não inventou uma “comparação absurda”, como você escreveu. Apenas traduziu para o espectador pesquisas científicas de importantes Universidades com credibilidade internacional. Eis abaixo três links com exemplos destes trabalhos. O mote de nossa reportagem é muito simples: o tempo de duração de um recorde no atletismo nunca foi tão extenso. Na natação, nunca foi tão pequeno. Esse degrau entre as modalidades provoca os cientistas, que resolvem estudar o tema. E o jornalista traduz esses estudos porque são de interesse público.

Caro Guilherme, eu não disse que a Globo inventou uma comparação absurda. Eu apenas acho que comparar natação e atletismo da forma vista na matéria é um tanto absurdo. Cada esporte tem suas peculiariedades, e número de recordes batidos não é um parâmetro muito fiel.

O termo “fácil”

Você diz ter ficado revoltado pelo uso do termo fácil para designar o período único em nossa história para a queda de recordes mundiais. Em primeiro lugar, a reportagem em nenhum momento questiona os méritos dos atletas na questão. Não menciono em nenhum instante que o atleta não merece o recorde por seu esforço diário, seu treino, etc. Aliás, até coloquei o Albertinho ali defendendo esse lado do atleta, mostrando como um número sem igual de marcas mundiais nos últimos dois anos gera um certo desconforto no público não habituado a natação.

A reportagem, mais uma vez, é baseada apenas na lógica, na ciência, na estatística. Não existe nenhum outro período em nossa história com uma profusão tão grande de recordes quebrados. Nunca houve um Mundial com tantas marcas estraçalhadas – a edição de 73, com 19 recordes, era a maior, e chegamos a 43 em Roma. É um salto que os estatísticos chamam de “aberração fora da curva”. Nunca nadadores tão mal ranqueados internacionalmente conseguiram bater um recorde mundial. Vivemos uma situação atípica. É o período da história onde o recorde mundial aparece com mais facilidade. O uso do termo não é incorreto.

Está perfeito aqui quando você diz que nunca houve nenhum outro período em nossa história com uma profusão tão grande de recordes quebrados. Concordo! Mas isso necessáriamente significa “facilidade”? O que é fácil e o que é difícil? Sinceramente, na minha prova, eu acho 58″6 uma marca muito difícil de fazer. Pareceu-me que o repórter que chamou a matéria usou o termo fácil como sensacionalismo. Ele poderia ter dito: Nas piscinas, nunca houve tantas quebras de recordes como agora.

Trajes

O raciocínio estaria correto se todos tivessem nadado de X-Glide nos últimos dois anos, o período das 195 marcas. Mas não foi bem assim. Atletas de LZR bateram marcas de nadadores que usavam sunga (Popov), de nadadores que usavam maiôs de lycra (Janet Evans), ou de bermudinha Arena, como vc mencionou. Depois, atletas de Jaked ou X-Glide bateram recordes dos atletas que usaram o LZR. E por aí vai. A variável do traje não é a única nessa questão, mas é, sim, muito importante. E por isso precisa ser mencionada com destaque.

Se proibirmos qualquer traje novo a partir de hoje e mantermos os existentes, daqui a 1 ano, acredito que as marcas iriam cair em uma velocidade bem menor. Os trajes ajudaram a quebrar marcas, isso é óbvio e eu não discordo. Se colocarmos todos os atletas com o mesmo traje, o melhor ainda irá vencer. Por isso as pessoas que ficam dizendo que querem ver tal nadador bater o tempo do Popov sem traje não procede. É o mesmo que dizer querer ver o Senna ganhar do Schumacher, cada um com seu carro da época.

Evolução do atletismo x natação

Sugiro uma simples conversa com um treinador de atletismo de médio porte para que esse argumento seja revisto. Eu, por exemplo, converso com os melhores treinadores, cientistas e atletas do Brasil por obrigação profissional. E te asseguro: pegue uma prova de atletismo dos anos 80 e te asseguro que tudo mudou – a técnica, a qualidade da pista, do sapato, da roupa, do dardo, do peso, da preparação psicológica, etc.

O atletismo continua a evoluir. Ocorre apenas que a mudança não é tão latente como na natação. Assim, é normal esperar que a quebra de recordes nas piscinas seja mais rápida do que nas pistas. O problema é que essa discrepância entre as duas modalidades cresceu demais entre 2008 e 2009. Antes dos Jogos de Pequim, os recordes na natação costumavam durar 3 anos e 2 meses no masculino e 2 anos e nove meses no feminino. Caímos para sete e quatro meses, respectivamente. No atletismo, apesar da evolução e de recordes de gente como Bolt ou Isinbayeva, algumas marcas seguem imbatíveis por mais de 25 anos. Dirigentes das duas modalidades estão preocupados – os do atletismo querem saber o motivo de tão poucos recordes caírem apesar da evolução, os da natação querem segurar os trajes para que a competição seja mais humana, menos mercadológica. Essa comparação é um fato de relevância jornalística. E isso está contemplado na reportagem.

Realmente sou leigo em técnicas de corrida. Mas pra mim, a forma que o Carl Lewis (1991) corria é muito parecida com a dos corredores de hoje. O que não ocorre na prova mais rápida da natação, e não preciso conversar com ninguém para saber isso sobre a natação. Sobre a preocupação: Será que os dirigentes estão mesmo preocupados como essas quebras? E se estiverem, porque? Não entendo essa “preocupação”. Parece mais uma preocupação financeira do que outra coisa. Se os recordes estão caindo, e daí? O que muda? Vamos frear isso? Como? Tirar os trajes? E se recordes começarem a cair sem trajes? Vamos obrigar o sungão de peso para todos?

Passado

A matéria não diz em momento algum que os heróis do passado foram esquecidos. Diz apenas que heróis do passado desapareceram da lista de recordes da natação. Todas as atuais marcas mundiais foram estabelecidas de 2007 para cá, com exceção dos 1.500 de Grant Hacket. Novamente, uma situação inédita. Marcas de gênios do passado costumavam perdurar por mais tempo no livro dos recordes. Porque era difícil superar gênios, mesmo com a evolução natural da técnica e da tecnologia. A reportagem apenas registra essa situação inédita. Fatos inéditos interessam ao bom jornalismo.

Acho que recorde é pra ser quebrado. Demonstra superação. É emocionante. Mas isso não tira os méritos de quem foi recordista antes. Com ou sem traje. O que eu quis dizer é que sou contrário a sua expressão: “Só que os heróis do passado, desapareceram.” Foi isso que você disse na matéria, e eu não concordo.

TV Globo

Não sou um aventureiro nessa área. Cubro esportes ininterruptamente desde 2002. Fui a duas Copas, dois Jogos Pan-Americanos, duas Olimpíadas. Minhas reportagens ganharam prêmios no Brasil e no exterior. Tenho orgulho de ser sério, correto e ético. De pensar dez vezes antes de escrever cada palavra. Não faço “matérias sem sentido”, não “forço a barra” nem produzo material “que não condiz com a realidade”. Sentenças deste tipo precisam ter embasamento rígido, e não simplesmente opinativo. Do contrário soam como leviandade, o que não é legal nem correto.

Como eu disse antes, as vezes uso palavras fortes que acabam ofendendo. Mas peço desculpas por isso, nunca quis depreciar seu árduo trabalho. Tenho muito respeito por você, mas ainda acho que em algumas afirmações, a minha opinião, você não foi muito feliz. Tenho certeza que você batalha muito e estuda muito para fazer suas matérias. E ouvir alguém qualquer desmerecê-las, deve ser chato. Foi mal!

UM ABRAÇO!

FISCHER.

About Eduardo Fischer

Eduardo Fischer é catarinense e natural de Joinville. Ex-Atleta Olímpico de natação da seleção brasileira e medalha de bronze no Mundial de Moscou, Fischer defendeu o país em dois Jogos Olímpicos (Sydney/2000 e Atenas/2004), 6 Campeonatos Mundiais e 1 Pan-Americano (Prata e Bronze). Bacharel em Direito e Advogado pela OAB/SC, Eduardo é especialista em Direito Empresarial pela PUC/PR e em Direito Tributário pela LFG/SP. Atualmente aposentado das piscinas, trabalha com Consultoria Tributária em um respeitado escritório de Advocacia (CMMR Advogados).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *