Matéria retirada do ESTADÃO e que está publicada no Blog do Coach…
Concordo com o mestre!
Abraço!
FISCHER.
“Defendo que os clubes são a célula mater do esporte brasileiro. O Brasil nunca formulou uma política específica para o desenvolvimento do esporte de base e de alto rendimento. Os clubes têm sido o nascedouro dos nossos fenômenos olímpicos. Neles os atletas têm sua iniciação, condições para treinar e para viver. A empresa que quiser investir no esporte deve fazê-lo através do clube, com parcerias. E não concorrer com eles, formando suas próprias associações desportivas. Por isso o clube formador de atletas olímpicos deve ser sempre incentivado.
O ato que constituiu o Conselho de Clubes Formadores de Atletas Olímpicos (“Confao”) é uma atitude correta. Como se não bastassem as vultosas verbas que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) recebe da Lei Piva, o Ministério do Esporte tem repassado milhões a ele, por convênios assinados. O governo já gastou cerca de US$ 42 milhões com repasses ao Comitê Olímpico Brasileiro, para o lobby Rio 2016. É um escândalo. Tem verba até para o vestuário dos membros do Co-Rio. Enquanto isso, os atletas olímpicos do Brasil vivem à míngua. Exemplo disso é vida miserável da judoca medalhista em Pequim.
Ao ver tanto dinheiro jorrando dos cofres públicos para uma candidatura olímpica fadada à derrota, é natural essa reação dos clubes contra a postura cética e arrogante do COB. A verba pública que o COB recebe é muito mal empregada. Mais da metade é gasta com “manutenção da entidade”. Além de dar uma parcela do dinheiro aos clubes comprovadamente formadores, sustento que a destinação do dinheiro transferido ao COB não seja definida em um gabinete com poucas pessoas. Deve existir um comitê gestor, que represente a sociedade civil para discutir como será aplicado o dinheiro do povo.
Os clubes olímpicos têm que participar desse bolo. Enquanto o COB gasta dinheiro com salamaleques atrelados ao Rio 2016, ou com sua folha de pagamentos altíssima e desnecessária, os clubes cobrem as despesas de treinamento dos atletas.
Uma vez que os clubes passem a receber dinheiro público, regras rígidas de controle devem ser impostas. Deve haver rigorosa prestação de contas. O dinheiro terá que ser empenhado na formação do atleta. Por ser dinheiro do povo, deve haver processos licitatórios. Há clubes voltados para o desporto olímpico. Outros são clubes de futebol e possuem, paralelamente, modalidades olímpicas. Para estes, é necessária fiscalização ainda mais severa, para assegurar que o dinheiro público recebido não seja desviado de suas finalidades e vá para os departamentos de futebol, para tapar rombos de más administrações.
Os argumentos do COB para rebater o pleito dos clubes são insensatos. O que o COB não quer é dividir dinheiro e tê-lo sobrando para continuar sendo uma entidade promotora de eventos e candidaturas olímpicas. Ressalto que clubes formadores existem em todo o Brasil. Não podemos nos ater àqueles que fundaram o Confao. Há clube pequeno, no interior do Brasil, que faz trabalho sério e de onde já saíram talentos. Esses também devem ter seus projetos analisados e, fazendo por merecer, devem entrar na divisão do dinheiro.
O COB está em uma encruzilhada. Críticas de todos os lados. A participação pífia em Pequim, se consideramos o que foi investido no esporte olímpico nesses quatro anos. Reeleição ilegítima. Contas do Pan-Americano rejeitadas pelo TCU. Representação no MP Federal para investigar as licitações. Ou o COB muda ou vai desmoronar, como uma estátua de areia engolida por uma onda de moralidade”.
* Alberto Murray Neto, 43 anos, Advogado, Árbitro da Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, Diretor da ONG Sylvio de Magalhães Padilha; autor do Blog albertomurray.wordpress.com