Conheça os cartolas olímpicos que estão no poder desde o século passado
Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo
08/02/2015
Quando Coaracy Nunes fundou e assumiu a presidência da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), em 1988, o presidente do Brasil era José Sarney e a inflação chegava a 993,28% ao ano. Ayrton Senna conquistava seu primeiro título na Fórmula 1 e fazia propaganda dos cigarros Marlboro. Na Alemanha, um muro dividia a cidade de Berlin em duas. Na Coreia do Sul, o judoca Aurélio Miguel ganhava a primeira medalha de ouro olímpica da história do judô brasileiro, nos Jogos de Seul.
De lá para cá, o Brasil teve mais cinco presidentes, a inflação foi posta sob controle e já não ultrapassa os 7%, Ayrton Senna conquistou mais dois títulos mundiais antes de morrer em trágico acidente, o Muro de Berlin foi derrubado e o judô brasileiro conquistou mais 14 medalhas olímpicas. Uma coisa, porém, não mudou: Coaracy Nunes segue presidindo a CBDA.
São 27 anos à frente da natação, do pólo aquático, dos saltos ornamentais e do nado sincronizado brasileiros. “Sou um vitorioso na minha confederação. Sempre fui reeleito por unanimidade pelos meus presidentes (das federações estaduais), então estou absolutamente tranquilo com a minha trajetória”, diz Coaracy, quando questionado se não vê problemas na falta de alternância no poder da CBDA.
O cartola dos esportes aquáticos é o caso mais extremo, mas está longe de ser um fato isolado dentro da realidade do esporte brasileiro (veja tabela abaixo). Entre as 27 confederações de esportes olímpicos no Brasil, três são dirigidas pelo mesmo cartola há mais de 20 anos, e 12 possuem o mesmo presidente há, pelo menos, dez anos.
Esta lista seria ainda maior se alguns cartolas não tivessem deixado recentemente o comando de suas confederações, enquanto enfrentavam denúncias de corrupção ou crises de confiança.
É o caso, por exemplo, da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). Ela foi controlada por Carlos Arthur Nuzman de 1975 a 1995. O cartola só deixou o cargo para assumir a presidência do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), cargo que ocupa até hoje. Em seu lugar, assumiu, em um mandato provisório, Walter Pitombo Larangeiras, conhecido como Toroca.
Já em 1997, assumiu a confederação o ex-jogador Ary Graça Filho, que por lá ficou por 17 anos, até o ano passado. Em março de 2014, porém, o site da ESPN revelou a existência, dentro da CBV, de um esquema de pagamentos irregulares de comissões em contratos assinados com o Banco do Brasil, principal patrocinador da confederação, na casa das dezenas de milhões.