SOBRE O PAN: OPINIÃO

Segue opinião do Alberto Murray sobre o Pan-Guadalajara 2011

ABRAÇO!

FISCHER.

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TENDÊNCIAS/DEBATES

ALBERTO MURRAY NETO

Para evitar escândalos esportivos

A visão puramente dinheirista que norteia a direção esportiva do país é deplorável; o esporte social, que deve ser o início de tudo, permanece desamparado

O Brasil foi bem um mais uma edição dos Jogos Pan-Americanos. As medalhas devem ser muito comemoradas. É necessário, entretanto, ter a dimensão exata das dimensões da competição continental.

Boa aparição no quadro de medalhas não indica que o país está bem no quesito esporte.
Apesar do enorme dispêndio de dinheiro público no alto rendimento, a nossa participação em Londres, no ano que vem, será apenas razoável, não muito diferente do que tem ocorrido em Jogos Olímpicos anteriores, em que os investimentos eram bem menores.

Se o Brasil figura à frente do Canadá no número de medalhas no Pan, é incorreto dizer que temos uma nação esportivamente mais desenvolvida que eles.

Lá, toda a população, desde a infância até a terceira idade, tem acesso gratuito à prática desportiva. E é isso que faz uma nação ser esportivamente forte. O Brasil ainda está muito distante desse patamar.

O Brasil não avançou um metro sequer na formulação de políticas públicas para o desporto. A utilização sucessiva do Ministério do Esporte como elemento de barganha política e o desinteresse do Comitê Olímpico Brasileiro em adotar uma administração moderna, com regras claras de governança corporativa, fazem com que o esporte permaneça à mercê de sua própria sorte.

O Ministério do Esporte é um mero repassador de dinheiro. E o Comitê Olímpico Brasileiro, preocupado em organizar grandes eventos, tem servido para, além disso, distribuir uniformes. São organismos que têm um fim em si próprios.

Na estrutura do esporte brasileiro, as entidades batem cabeça. Na prática, não se sabe que atribuição compete a cada organização.

A visão puramente dinheirista que norteia a direção esportiva do Brasil é deplorável. O esporte social, que deve ser o início de tudo, continua desamparado. Crianças da rede pública de ensino permanecem sem acesso à pratica esportiva. E não há nenhum movimento para alterar essa realidade. As prioridades do país nesse setor estão erradas.

Não há vontade política de massificar o esporte. Enquanto isso, somos diariamente bombardeados com as cifras gigantescas que custarão aos cofres públicos a organização da Copa e da Olimpíada.
Num país em que crianças não têm bola, pista, quadra ou piscina à sua disposição, o Estado gastará uma exorbitância em estádios de futebol e complexos esportivos que não servirão para nada.

Daí a minha sugestão de que cada estádio que for construído para a Copa transforme-se em unidade de desenvolvimento de esporte em sua região. Com poucas modificações, podem ser transformados em pistas de atletismo.

O Comitê Olímpico Brasileiro, financiado com muito dinheiro público, não divulga quanto ganham os seus funcionários de alto escalão, certamente bem mais que a Presidência da República. Também modifica os seus estatutos, blindando seus atuais gestores, de forma a tornar quase impossível a existência de movimento oposicionista.

Diz-se entidade privada, mas tem seus caprichos nutridos com verbas públicas. E o achincalhe é que nenhuma autoridade estatal repudia essas violências jurídicas.

Uma entidade que vive de dinheiro do povo não pode tirar desse mesmo povo o direito de concorrer aos cargos de sua direção. E é isso que faz o Comitê Olímpico Brasileiro.
Qualquer brasileiro no gozo de seus direitos pode ser candidato a presidente da nação. Mas não pode ser candidato a presidente de seu Comitê Olímpico. Uma verdadeira inversão de valores. O Brasil precisa alterar profundamente os conceitos que administram o esporte.

Se não houver mudanças imediatamente, a Copa e Olimpíada, juntas, poderão ser o maior escândalo da história da República. Lembremo-nos do Pan-2007, que custou 1.000% mais caro aos brasileiros. E cujo legado para o povo é nenhum.

ALBERTO MURRAY NETO é advogado e diretor da ONG Sylvio de Magalhães Padilha, de apoio ao esporte e ao movimento olímpico. Site: www.espn.com.br/albertomurrayneto Twitter: @albertomurray

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

About Eduardo Fischer

Eduardo Fischer é catarinense e natural de Joinville. Ex-Atleta Olímpico de natação da seleção brasileira e medalha de bronze no Mundial de Moscou, Fischer defendeu o país em dois Jogos Olímpicos (Sydney/2000 e Atenas/2004), 6 Campeonatos Mundiais e 1 Pan-Americano (Prata e Bronze). Bacharel em Direito e Advogado pela OAB/SC, Eduardo é especialista em Direito Empresarial pela PUC/PR e em Direito Tributário pela LFG/SP. Atualmente aposentado das piscinas, trabalha com Consultoria Tributária em um respeitado escritório de Advocacia (CMMR Advogados).

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